Quando o assunto é ficção científica, ainda é comum ver gente que simplesmente desconhece a grande e incrível obra de Frank Herbert, lançada no distante ano de 1965. Duna serviu e ainda serve de inspiração para apresentar e desenvolver entre muitas coisas, os tão presentes conceitos heroicos do Herói de 1000 Faces de Joseph Campbell (1949). Voltando à trama de Arrakis, Duna é o pilar fundamental de praticamente tudo que conhecemos sobre Sci-Fi (e algumas obras de outros gêneros) até os dias de hoje.
Isso certamente inclui super atrações (clássicas ou modernas) como o duo Star Trek (1966) e Star Wars (1977) além de obras como Game of Thrones (fonte de inspiração mais do que confirmada pelo próprio George R.R. Martin).
A obra literária de Herbert é apresentada em 6 livros detalhados que abrangem diversos temas ainda muito presentes na sociedade, como segregação racial, luta de classes, guerra religiosa, o poder tecnológico, exploração de outras culturas e é claro (também conhecida como escravidão), a boa e velha corrupção pelo dinheiro associada às mais impensáveis traições políticas e obviamente, suas consequências catastróficas (no caso de Duna, em escala universal) - Adquira a Coleção Completa.
Então são esses os livros:
Duna (1965) (Compre o livro)
O Messias de Duna (1969) (Compre o livro)
Os Filhos de Duna (1976) (Compre o livro)
O Imperador-Deus de Duna (1981) (Compre o livro)
Os Hereges de Duna (1984) (Compre o livro)
As Herdeiras de Duna (1985) (Compre o livro)
Dada sua enorme complexidade (cenários, veículos, naves, personagens, rede de intrigas, e etc) a obra de Frank Herbert sempre esteve na mira de produtores (ousados) que desejavam transformar Duna num ambicioso projeto cross media (muito antes da invenção dessa terminologia). Mas os estúdios (sempre mais pé no chão) pesavam as limitações tecnológicas frente às limitações financeiras e simplesmente terminavam a leitura dos roteiros engavetando os projetos, enterrando todos os rumores sobre essas tentativas (falhas) de produção.
Mas não entenda mal. Eles não faziam isso porque a obra de Herbert era ruim, muito pelo contrário. Duna era especial demais para estrear da maneira errada e acabar caindo esquecimento do público ou tendo seu legado prejudicado por uma execução cinematográfica que não estivesse à altura de sua grandeza - assim, era mais fácil deixar os projetos aguardando na gaveta.
DUNE (1984), David Lynch
A primeira atração audiovisual de Duna veio à luz do conhecimento na forma de um longa-metragem de 137 minutos no ano de 1984. Dirigida e roteirizada por David Lynch, produzida por Dino de Laurentiis, trazendo um elenco com nomes famosos da época, como: Max von Sydow, Patrick Stewart e Sting.
Seu roteiro base (ultra-super-resumido) era:
O ano é 10191. A Humanidade há muito já habitava diversos locais do universo sendo segregada de forma feudal, tal qual o regime familiar aos séculos V a XV aqui na Terra. O sistema financeiro gira em torno de uma estranha especiaria que, além de aumentar a expectativa de vida das pessoas, conferia alguns poderes a certos indivíduos especiais (além de possibilitar as viagens espaciais).
No meio disso tudo está o planeta Arrakis, também conhecido como Duna.
O único lugar onde é produzida a Especiaria Melange. Isso transformou o planeta num enorme palco de conflitos, guerras, tramoias e reviravoltas entre a nobreza do Imperium. Afinal de contas, por mais que Arrakis seja um “fim de mundo”, quem controla o planeta também controla a produção de Melange e consequentemente todo o Universo.
DUNE (2000) - minissérie
Eis que muito tempo depois da tentativa de David Lynch, o Sc-iFi Channel traz à luz da existência uma nova adaptação para o “início de tudo”.
Desta vez, o espectador (fã) é presenteado com uma minissérie de 3 longos episódios de mais ou menos 1 hora e meia, contendo muita informação sobre toda a obra de Herbert. Só isso já deixa a série num patamar acima da adaptação cinematográfica de David Lynch que, no início dos anos 2000, já estava datada.
Dirigida por John Harrison e estrelada por nomes como William Hurt, Alec Newman e Giancarlo Giannini, Dune veio diretamente para as telas de TVs com pacotes de TV à cabo trazendo um roteiro bem fidedigno à obra literária, visto que foi escrito tanto pelo diretor John Harrison e pelo próprio autor da obra, Frank Herbert.
Claro que não demorou para a série cair nas graças dos fãs, que obviamente fizeram de tudo para tirar o pó de cima do título.
CHILDREN OF DUNE (2003) - minissérie
Em 2003, o mesmo Sci-Fi Channel estreou uma nova minissérie de 3 episódios adaptando 2 dos 6 livros originais: O Messias de Duna (1969) e Os Filhos de Duna (1976) dando continuidade à série lançada 3 anos atrás.
A sequência ainda estava sob o comando da parceria John Harrison e o próprio Frank Herbert, mas dessa vez, dirigida por Greg Yaitanes (Além da Imaginação, Dr. House e agora House of Dragon na HBO) trazendo nada menos que 4 horas e 25 minutos de uma longa aventura recheada com bastante drama, fantasia e uma dose considerável de ficção científica.
Cabe lembrar que que, assim como sua antecessora, a série do Sci-Fi Channel tinha os mesmos limites financeiros e tecnológicos para uma produção televisiva da época, afinal de contas, foi somente em abril de 2011 que a HBO mudou os paradigmas de investimento em séries televisivas com o lançamento de Game of Thrones, instituindo e consolidando um novo padrão de gastos milionários por episódio.
Voltando à trama sideral de Herbert, a nova série conseguiu um desempenho (aceitação) relativamente igual ao da série antecessora, porém muito superior ao do filme de 1984 (que infelizmente não envelheceu bem, sendo HOJE facilmente enquadrado como um filme cansativo e lento).
Dune e Children of Dune foram as minisséries responsáveis por resgatar os fãs e mirar novamente os holofotes da ficção científica à obra de Herbert, que inspirou tantas outras produções literárias, cinematográficas e televisivas.
DUNA HQ
Durante todo esse tempo, desde o lançamento do primeiro livro de Herbert e obviamente dos livros subsequentes que foram a grande coleção da Ficção Científica, Duna é um título que seguiu vendendo relativamente bem no meio impresso (inclusive contando com diversas revisões).
Vendo a possibilidade de adentrar um nicho ainda não explorado, em 2020 a obra de Herbert acaba por “invadir” o mercado de quadrinhos e graphic novels, popularizando ainda mais o nome de Duna e seu autor.
No Brasil, já é possível encontrar a versão mais recente da graphic novel de Duna; que é nada menos que um “tijolo” de 176 páginas trazido pela Editora Intrínseca. Essa verdadeira obra de arte dos quadrinhos foi adaptada por Brian Herbert (filho do autor) e Kevin J. Anderson, trazendo ilustrações de Raúl Allén e Patricia Martín.
Link para a página da editora: https://www.intrinseca.com.br/livro/1019/
DUNA no mundo dos videogames
DUNE
Em 1992, Dune foi desenvolvido pela Cryo Interactive e publicado pela Virgin Interactive, o jogo foi lançado para as plataformas para AMIGA e PCs compatíveis com IBM.
Duna é um jogo que combina aventura com estratégia econômica e militar, enquanto segue vagamente a história do livro.
O jogador está na pele de Paul Atreides e tem o objetivo final de expulsar os Harkonnen do Planeta Duna, enquanto extrai especiaria, gerencia tropas militares e Fremen.
Cabe destacar que, apesar da descrição do jogo levar a entender que se tratava de um jogo de estratégia como conhecemos hoje, ou seja, um jogo estilo Warcraft, não era bem assim que sua jogabilidade foi pensada...
DUNE II
Veio ao mercado com o nome de Dune II: The Building of a Dynasty, posteriormente renomeado para Dune II: Battle for Arrakis (na Europa), o jogo foi lançado pela Westwood Studios ainda em 1992. A mesma empresa que se tornaria responsável pelo lançamento de grandes títulos de estratégia como Command & Conquer.
Esse jogo trazia um novo padrão de jogabilidade de estratégia em tempo real que conseguiu balancear complexidade e inovação de uma forma única, sendo o primeiro a utilizar o mouse para mover unidades e tropas, facilitando muito as ações do jogador.
Dune II foi o alicerce fundamental para o desenvolvimento de outros títulos que também se eternizaram no mundo dos games, como: Warcraft, Command and Conquer e outros.
DUNE 2000
Lançado pela mesma Westwood Studios Dune 2000 é um daqueles jogos temáticos de construir e ampliar suas forças, controlar tropas e derrotar seus inimigos (estilo Warcraft).
Dune 2000 foi um lançado totalmente dentro das especialidades do estúdio que o desenvolveu. Originalmente pensado para ser um remake de Dune II, acabou saindo bem diferente do projeto, mas isso não impediu o jogo de ganhar uma continuação ao confronto entre as Casas Atreides, Harkonnen e Ordos...
EMPEROR: Battle for Dune
Lançado em junho de 2001 pela Westwood Studios, foi o terceiro jogo de estratégia em tempo real lançado pela empresa. Pensado para ser uma continuação direta da história de seus antecessores, particularmente dos eventos de Dune 2000, Emperor trazia cinematics live action gravadas por atores reais, uma boa jogabilidade e interatividade com o mapa, mas apesar disso, sua aceitação foi apenas relativamente boa. O que fez com que fosse ultrapassado rapidamente por seus concorrentes mais populares à época.
DUNA (2021), Denis Villeneuve
A nova produção cinematográfica de Duna tem roteiro de Eric Roth, Jon Spaihts e do próprio Denis Villeneuve, um fã assumido da franquia de Herbert.
Trazendo um elenco de grandes estrelas como Dave Bautista, Jason Momoa, Javier Bardem, Josh Brolin, Oscar Isaac, Rebecca Ferguson, Zendaya e o incrível protagonista Timothée Chalamet o filme de 155 minutos já começa informando o espectador que, tudo o que ele está prestes a testemunhar será apenas a primeira parte de uma grande história que (infelizmente) ainda não tem previsão de conclusão.
ENREDO
O filme inicia em Caladan, terra natal da Casa Atreides, um lugar onde o diretor fez questão de tomar muito cuidado para mostrar a magnitude exuberante da paisagem, deixando mais fácil para o espectador ter noção de tudo que os Atreides estavam deixando para trás quando decidem atender ao chamado imperial: Assumir a posição dos novos regentes de Arrakis e todos os compromissos atrelados ao cargo.
Já no planeta arenoso, Villeneuve continua entregando planos longos e amplos para valorizar a imensidão imponente do deserto sem fim. Cena após cena, a direção traz (gradativamente) à tona todos os problemas políticos, sociais, geográficos, ecológicos e até mesmo espaciais. Além é claro, de associar tudo ao impacto que Arrakis teve na vida da Casa Atreides, agora tão longe de sua terra natal.
Entre os maiores problemas enfrentados pela nova administração de Arrakis, estão:
A missão de dar continuidade na extração e entrega da Especiaria Melange ao império galáctico;
Lidar com a ameaça Harkonnen e Fremen;
Todas as reviravoltas políticas na corte imperial. Mas é claro que esse último problema ainda está por ser apresentado, visto que Duna (2021) é apenas a primeira parte dessa grande produção cinematográfica.
PRÓS E CONTRAS
Por mais que a história de Herbert não seja nenhuma novidade aos nerds de plantão, qualquer coisa que contemos a mais (do que foi escrito acima), certamente pode comprometer a experiência (quase par e passo com o livro) para aqueles que ainda querem (e devem) assistir a essa obra prima do cinema atual.
Portanto, por mais que o filme tenha muitos méritos, precisamos avisar que o filme de Villeneuve tem alguns “problemas”:
A Direção mostra lados da personalidade de alguns personagens (específicos) que, tendo em vista quem são, certamente não deveriam ter sido explorados da maneira que foram. Isso dá a entender que tais cenas foram construídas de maneira a garantir mais tempo de tela aos atores que (apesar de seu talento) são verdadeiros chamarizes de público.
O filme apresenta uma noção perturbadora de tempo, daquelas que deixa o espectador confuso com relação à passagem dos dias. Algo similar ao ocorrido em O Senhor dos Anéis, A Sociedade do Anel; que faz o espectador crer que as coisas ocorreram em questão de horas ou no máximo alguns poucos dias, quando o enredo original (no livro) diz que foram anos entre um evento e outro.
Apresenta um nível de violência gráfica muito baixo frente ao que poderia ter sido. Visto que Duna traz um conceito diferente de confronto, resgatando o combate por lâminas e diversos confrontos militares em escala de exércitos.
Já as partes boas, são SÓ todo o resto!
Não é nenhum exagero dizer que Duna traz um elenco gigante que entrega uma atuação impecável, técnicos de CGI que apresentam cenários lindos de tirar o fôlego, editores que fizeram uma montagem, fotografia, sonorização, música e ambientação perfeitas ao ponto de entregar um cenário totalmente imersivo e absurdamente realista.
Duna é uma daquelas produções pautadas por um storytelling muito bem construído que dá o tempo necessário para o público assistir e entender o que está acontecendo (mesmo sem ter lido o livro ou ter assistido qualquer uma das produções antigas).
A direção é competente a ponto de ter removido tudo que atrasava o enredo nas versões anteriores enquanto incluiu diversos conteúdos pertinentes e relevantes, melhorando muito o resultado final.
SPOILER ABAIXO:
Por falar em final, é importantíssimo ressaltar que Duna acaba subitamente num momento crucial do segundo ato.
Momento esse em que Paul Atreides (segue o roteiro do monomito de Joseph Campbell) precisando atender ao chamado à aventura, tomar as rédeas de seu destino e mudar para sempre o curso da história.
Isso simplesmente faz com que a efetividade dessa primeira parte do projeto de Denis Villeneuve seja 100% dependente da qualidade de um segundo filme que ainda nem começou a ser produzido.
Caso o filme não seja um sucesso absoluto e a Warner Media não endosse a continuação, é muito possível que Duna seja duas coisas ao mesmo tempo: A melhor adaptação já feita do livro de Frank Herbert e o maior desperdício cinematográfico da história.
Só esperamos que Denis Villeneuve não seja obrigado a fazer o público esperar 13 anos para entregar a continuação dessa obra prima (caso que vimos ocorrer com Avatar de James Cameron, cuja estreia da continuação está prevista para 16 de dezembro de 2022, nos Estados Unidos).
CONCLUSÃO
Depois de tudo que foi dito, é praticamente certo que Duna é um daqueles filmes que trazem mais acertos do que erros. Mas fora isso, é um daqueles filmes que, foram realizados por um diretor que se dedicou de corpo e alma ao projeto, entregando uma obra que é digna de concorrer (e até mesmo ganhar) em todas as categorias do Oscar, não sendo exagero nenhum dizer que se trata de uma experiência que certamente vale o preço do ingresso merecendo ser vivenciada numa tela de cinema que seja digna de sua grandeza.
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Para os interessados de plantão e aproveitando o clima de Ficção Científica e Fantasia, para a galera que não sabe o que é RPG no meio nerd/geek, explicamos o que é em nosso o episódio 8 do Insert Coin Cast.
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